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A ordo salutis ou ordem de salvação

Como vimos, os teólogos têm a tendência de resumir o ensino bíblico em listas ordenadas. Ao analisarmos a ordem dos decretos, supostamente um resumo da ordem dos pensamentos de Deus no seu plano eterno para a criação.

Na versão supralapsariana da lista, o primeiro item é o pactum salutis de Deus, a aliança entre o Pai e o Filho para assegurar a bênção para um povo eleito a ser criado. Depois vêm os decretos de criar, permitir a queda, enviar Cristo para expiar o pecado e assim por diante.

Os infralapsarianos sugerem uma ordem diferente, e há outras propostas. Em vez de aceitar como óbvia a legitimidade desse projeto e criticar propostas individuais, questiono se as Escrituras nos autorizam a tabelar o conteúdo da mente de Deus desse modo.

Muitos teólogos também juntam as bênçãos da aplicação da redenção numa lista ordenada, chamada de ordo salutis ou “ordem de salvação”. No entanto, há problemas com essa ordem que são semelhantes aos problemas na ordem dos decretos.

A Ordem da Salvação

Um deles é o fato de que nenhuma dessas ordens é mencionada na Bíblia. Outro é o fato de que as próprias Escrituras não demonstram nenhum interesse em organizar esses eventos numa lista ordenada.

A ideia da ordo salutis às vezes é baseada em Romanos 8.29-30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.

E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.

Somos tentados aí a colocar todos esses atos divinos numa lista ordenada: presciência, predestinação, vocação, justificação, glorificação. A ordenação de vocação, justificação e glorificação por Paulo concorda com a ordem desses atos na lista teológica tradicional.

No entanto, a lista de Paulo não inclui alguns itens da ordo tradicional (regeneração, conversão, adoção, santificação, perseverança) e acrescenta os eventos da presciência e da predestinação, que geralmente não estão incluídos na ordo dos sistemas teológicos.

O mais importante é que o texto dessa passagem não enfatiza quais aspectos da ordem estão na lista. Tudo o que a passagem afirma é que Deus deu essas cinco bênçãos para as mesmas pessoas.

Essas são as pessoas que foram “chamadas” (Rm 8.28), para as quais “todas as coisas cooperam para o bem”.

Paulo lhes assegura que, se foram chamadas por Deus, elas certamente vivenciarão todas as outras bênçãos mencionadas na passagem. Paulo não incentiva as pessoas chamadas a meditarem na ordem em que essas bênçãos vêm.

Além disso, se o cristão meditar na ordem em que as bênçãos de Deus vêm, que tipo de ordem ele teria em mente?

Como indica na a ordem dos decretos , há tipos diferentes de ordem, como temporal, causal, condicional, pedagógica.

E, como ocorre com a ordem dos decretos, nenhum tipo de ordem determina a lista tradicional. Observe:

1. A vocação vem antes da regeneração tanto de modo temporal quanto causal.

2. A regeneração vem antes da fé de modo causal, mas muitos teólogos as consideram simultâneas.

3. A fé é anterior à justificação, mas não de modo causal ou temporal. A maioria dos teólogos descreve a relação como “instrumental”. Contudo, a prioridade instrumental só é relevante para esses dois itens da lista.

4. A justificação precede a adoção e a santificação, mas também não é de modo causal ou temporal. Talvez seja melhor dizer que a justificação provê a base legal e forense para a adoção e a santificação, mas a categoria legal-forense só é usada aqui na lista.

5. Não há motivo óbvio para a adoção preceder a santificação, ou vice-versa.

Portanto, a meu ver, a “ordem” da ordo salutis não reflete uma organização objetiva das provisões redentoras de Deus. Há vários tipos de ordem por toda a lista, como indiquei acima, mas não há nenhuma ordem geral que se aplique à lista como um todo.

Considerações Finais Sobre a Ordem da Salvação

Apesar disso, penso que a ordo tem valor como um instrumento pedagógico. É edificante para um professor guiar seus alunos pela lista tradicional, explicando o significado dos termos e dos diversos relacionamentos que conectam os itens da série.

Os teólogos precisam dar mais atenção, e não menos, à pedagogia, e a ordo é um instrumento pedagógico eficaz que emerge da própria tradição teológica.

Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “Teologia Sistemática” de John Frame que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.

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