Ideologias, Idolatria e a Verdade do Evangelho
A verdade, tanto no sentido absoluto quanto no relativo, certamente interessa aos cristãos. A verdade é um atributo de Deus, e Jesus afirma que ele próprio é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.16). Ele também diz: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).
Se Marx, Mannheim, Arendt, Crick e Havel estão corretos ao afirmar que as ideologias representam concepções fundamentalmente equivocadas do mundo, nós, cristãos, temos a obrigação de levá-los a sério e discernir de que maneira eles estão certos, e de que forma estão errados.
Ideologias – Idolatria e a Verdade do Evangelho
Como sugerido até agora, acredito que a ideologia pode ser melhor entendida com referência a seu caráter religioso básico. O uso da palavra pode parecer provocativo no discurso contemporâneo, pois implica que uma religião está fazendo reivindicações da verdade reservadas a outras crenças.
Embora muitos considerem ofensivas essas reivindicações, principalmente nesta era pós-moderna, o fato é que a religião, por sua própria natureza, faz tais reivindicações.
Qualquer tentativa de relativizar a religião corre o risco de torná-la menor do que ela afirma ser e, portanto, a banaliza. Consequentemente, a idolatria ainda deve ser considerada como uma categoria operativa.19
Além disso, conforme observado por Paul Marshall, idolatria não é apenas mais um pecado, do qual orgulho, inveja, luxúria e outros são exemplos; na verdade “todo pecado é uma expressão do pecado básico da idolatria, de colocar alguma outra coisa no lugar de Deus”.
20 A idolatria, em outras palavras, é a origem de todos os outros pecados, conforme indicado por sua proscrição ser classificada como o primeiro preceito do decálogo (Êx 20.3; Dt 5.7).
A idolatria toma algo pertencente à criação, tenta elevá-lo acima do limite que separa Criador e criatura, e faz dele um tipo de deus. Por conta da abrangência da religião, a idolatria busca colocar todo o resto da criação a serviço desse deus inventado.
A Idolatria Mais Vista Nas Escrituras
O tipo de idolatria que melhor conhecemos nas Escrituras tem pessoas formando uma divindade pessoal inventada (em madeira ou pedra), erigindo templos, criando ritos litúrgicos e oferecendo sacrifícios.
Incansavelmente, os profetas do Antigo Testamento denunciaram a adoração de falsos deuses, uma situação constante em Israel e Judá.
Mas a idolatria também se manifesta de maneiras mais sutis. Os seres humanos são inevitavelmente criaturas que adoram, embora nem todos admitam isso de si mesmos.
Um ateu nega a crença em Deus, mas pode de fato adorar a racionalidade, a habilidade artística ou o poder militar. Mesmo crentes nominais em Deus podem servir a ídolos como o sucesso financeiro, o prestígio social ou o poder político.
Pelo fato de a idolatria, nesse segundo sentido, ser tão indireta e menos abertamente experimentada como tal, em geral não a reconhecemos pelo que ela é.
Contudo, é nesse tipo de idolatria que a ideologia está enraizada
A conexão entre idolatria e ideologia é feita de modo contundente por Bob Goudzwaard, que argumenta que a natureza religiosa dos seres humanos pode ser compreendida levando-se em conta “três regras bíblicas básicas”.
Primeiro, todos servem a um deus de algum tipo. Segundo todos são transformados na imagem do deus a quem servem. Terceiro, as pessoas estruturam sua sociedade à sua própria imagem.
Agostinho afirma isso estabelecendo dois princípios básicos: nosso coração não descansa até que repouse em Deus; e uma comunidade é unida por objetos de amor compartilhados.
Se os membros da comunidade amam a Deus e buscam fazer sua vontade, então as estruturas que ordenam a vida comum refletirão isso.
Considerações Finais Sobre a Verdade do Evangelho
Se, por outro lado, seus membros amam coisas como riqueza material, direitos individuais e um Estado todo- poderoso, então esse amor compartilhado se dará de forma que afete o bem-estar da comunidade.
Se o coração da comunidade buscar descanso nas coisas que não podem trazer descanso, essa inquietação contínua se manifestará nas instituições políticas e sociais.
Em resumo, a adoração aos ídolos traz consequências práticas para a vida compartilhada de pessoas em uma comunidade.
Temos que tomar cuidado para não sermos enganados pelosos ídolos da nossa cultura, como cristãos temos que adorar somente nosso rei Jesus.
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