Siga-nos

A vocação eficaz

Nas Escrituras, o termo vocação tem diversos significados que irei explorar mais adiante neste capítulo. Porém, o significado mais predominante na Bíblia e o mais importante para a aplicação da redenção é o que os teólogos chamam de vocação eficaz. John Murray a define assim:

“A vocação é o chamado eficaz por parte de Deus Pai, de acordo com seu propósito eterno em Cristo Jesus e visando a cumpri-lo, direcionado aos peca dores mortos em delitos e pecados.

Um chamado que os leva à comunhão com Cristo e à posse da salvação da qual ele é a encarnação; um chamado imutável em seu caráter, por causa do propósito do qual ele procede e do vínculo que ele impõe”.

A Vocação Eficaz

Romanos 8.28-30, citado anteriormente, é uma das passagens mais significativas quanto a esse tema. Ela indica que aqueles “que são chamados” têm uma posição muito importante aos olhos de Deus

E esse chamado lhes confere todas as bênçãos da obra de Jesus (veja também Rm 1.6-7; 11.29; 1Co 1.2,9,24,26; 7.18; Gl 1.15; 2Ts 2.13-14; 2Tm 1.9; Hb 3.1-2; 1Pe 2.9; 5.10; 2Pe 1.10).

Nesse sentido, o chamado é um ato soberano de Deus e “não deriva sua definição de nenhuma atividade da nossa parte, como a fé, o arrependimento ou a conversão”.5 Não podemos resistir a ele.

A vocação eficaz nos ajuda a lidar com um paradoxo: muitas pessoas no mundo são eleitas, mas, apesar disso, estão “mortas em (…) delitos e peca dos” (Ef 2.1).

Embora tenham sido escolhidas em Cristo antes da fundação do mundo, vivem como incrédulas, sem fé alguma em Cristo. Esse paradoxo se dá pelo caráter histórico da redenção.

Deus determinou soberanamente que a eleição é o primeiro passo, não o último, na história da vida de cada crente com Jesus.

Subsequentemente à eleição, Deus guia cada um do seu povo por meio de um processo pelo qual eles se tornam vinculados mais intimamente a Cristo.

A vocação eficaz é o primeiro passo nesse processo histórico.

A vocação eficaz nos convoca a todas as bênçãos da salvação:

  • reino (1Ts 2:12),
  • santidade (Rm 1.7; 1Co 1.2; 1Ts 4.7; 5.23-24),
  • paz (1Co 7.15),
  • liberdade (Gl 5.13),
  • esperança (Ef 1.18; 4.4),
  • luz (1Pe 2.9),
  • perseverança paciente (1Pe 2.20-21),
  • reino divino de glória (1Ts 2.12),
  • vida eterna (2Ts 2.14;
  • 1Tm 6.12; Hb 9.15;
  • 1Pe 5.10; Ap 19.9).

Portanto, essa vocação é “soberana” (Fp 3.14), “santa” (2Tm 1.9) e “celestial” (Hb 3.1). Em última instância, ela nos chama à comunhão com Cristo (1Co 1.9), porque é em Cristo que temos todas as bênçãos da salvação.

Assim, na vida do cristão Deus age primeiro, antes de darmos a ele qualquer resposta, mas sua ação exige de nós uma resposta piedosa.

Consequentemente, Deus não apenas nos chama para suas bênçãos; ele também nos chama para a obrigação. Pedro exorta: “Por isso, irmãos, procurai, in diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum” (2Pe 1.10).

As qualidades inerentes ao procedimento elogiado por Pedro estão enumeradas nos versículos 3 a 9: fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor. A vocação é um ato gracioso de Deus, mas ela produz inevitavelmente boas obras no cristão, obras que ele, de fato, é chamado.

Observe que, na aplicação da redenção, cada passo intensifica nossa união com Cristo (veja o capítulo 38). Estamos “em Cristo” por causa da nossa eleição eterna (Ef 1.3), mas pela vocação eficaz entramos na “comunhão” com Cristo (1Co 1.9).

A aplicação da redenção nos leva cada vez mais profunda mente a Cristo, que é a fonte de todas as suas bênçãos.

A diferença entre quem não é chamado e quem é chamado é a diferença entre o dia e a noite, entre a morte e a vida. Todavia, a partir de outra perspectiva, é uma diferença entre a união com Cristo e outra união mais profunda.

DEUS – O Autor da Vocação Eficaz

O autor da vocação eficaz é Deus Pai’ (Rm 8.30; 1Co 1.9; Gl 1.15; Ef 1.17-18). Murray diz: “Para usar os termos usados pelo nosso Senhor, [o Pai] concede homens ao seu próprio Filho nas operações eficazes da sua graça (Jo 6.37)”.

Embora o Espírito seja dominante nas descrições bíblicas da aplicação da redenção, é válido nos lembrarmos de que, em todas as obras da salvação, todas as pessoas da Trindade estão ativas. Veremos que o Pai também é aquele que nos justifica, adota e santifica.

É bom saber que o Pai, o qual planejou a aliança eterna de redenção (pactum salutis), permanece envolvido na concretização da sua aliança. Quando somos atraídos à comunhão com Cristo por meio do Espírito, tornamo-nos filhos do seu pai.

Para que você possa se aprofundar e continuar seus estudos, leia o nosso próximo artigo, para você ter uma visão mais acurada do assunto indico o livro “Teologia Sistemática” de John Frame que deu origem a este artigo. Deus abençoe, até o próximo texto.

Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *