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O problema do mal – Sua origem e natureza parte 1

Hoje nós vamos falar sobre o problema do mal e suas consequências na história humana.

Quando olhamos os atributos morais de Deus, é necessário considerar o desafio mais importante á bondade e á justiça divina, o chamado problema do mal.

De fato, esse é provavelmente o problema mais difícil em toda a teologia; para muitos ateus, é o calcanhar de Aquiles da cosmovisão teista.

Em suma, o problema do mal é o seguinte:

Se Deus existe, como pode haver mal no mundo? Ou, para colocar de modo mais formal:

Se Deus é onipotente, ele é capaz de evitar o mal.

Se Deus é bom, ele deseja evitar o mal.

Contudo, o mal existe.

Ou Deus não é todo poderoso ou não é todo bondoso.

O argumento pressupõe que Deus existe

No entanto, a conclusão geralmente é considerada como uma redução absurda dessa preposição. Afirmar que Deus não é onipotente ou bom é afirmar que o Deus da Bíblia não existe.

O silogismo acima ás vezes é chamado de problema lógico do mal, pois acusa a cosmovisão teista de incoerência lógica.

A acusação é a de que os teitas creem num Deus onipotente e bom, mas também acreditam de modo incoerente que o mal existe.

Evidentemente, com frequência, o problema do mal é sentido, não argumentado.

O problema emocional do mal é simplesmente a agonia que sentimos quando vivenciamos uma tragédia na vida e clamamos por que, senhor?

Outra distinção que precisamos fazer inicialmente é entre o mal natural e o mal moral

O primeiro inclui tudo o que traz sofrimento, desprazer ou dificuldades na vida das criaturas. Terremotos, dilúvios, doenças, lesões, e morte são exemplos de mal natural.

O mal moral é o pecado das criaturas racionais (anjos e homens). De acordo com as Escrituras, o mal moral surgiu primeiro.

As tentações de Satanás e a desobediência de Adão e Eva trouxeram a maldição divina sobre a terra (Gn 3. 17-19).

Deus só removera esta maldição no último dia, na consumação da redenção de Jesus, quando Deus executara o seu juízo final e este mundo será substituído por novos céus e nova terra.

Nesse meio-tempo, a criação “geme” com dores de parto (Rm 8.22) com “ardente expectativa” da “revelação dos filhos de Deus.

Então, a Bíblia nos da uma resposta explicita ao problema natural

Ele é uma maldição trazida ao mundo por causa do mal moral.

O pecado trouxe morte para a raça humana, mas também para o universo sobre o qual o homem devia governar.

Deus ordenou que o universo resista ao seu governante humano até que esse governante para de resistir a Deus.

Assim, na redenção, o propósito de Deus não é nada menos “que, havendo feito paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus (Cl 1.20).

A pergunta não respondida e o problema do mal moral: como o pecado pode existir num universo teísta?

Dado o que já vimos sobre a soberania de Deus, as várias tentativas de mostrar que Deus é muito fraco para impedir o mal não parecem promissoras. Temos que assumir que o Deus da Bíblia é bom, justo e santo (Ex 12 e 13).

Se observarmos as explicações de Êxodo 34. 6-7 sobre os nomes de Deus veremos que ensinam a justiça de Deus, como Deuteronômio 32. 4. e Salmo 5.4 por isso nunca devemos considerar soluções que questionam os atributos de Deus.

A defesa comum do problema do mal pode ser dividida em tres tipos gerais: a primeira focaliza na natureza do mal; a segunda, nos modos pelos quais o mal contribui para o bem geral do universo; a terceira, na agencia divina quanto ao mal. Consideraremos as três:

Primeira: A natureza do mal

O mal não é uma ilusão: A seita Ciência cristã e alguns tipos de hinduísmo defendem que o mal é uma ilusão. Obviamente, se isso fosse verdade, o problema do mal desaparece.

No entanto, essa alegação é facilmente refutada. Mesmo se o mal não existisse no mundo fora de nós mesmos, ele certamente existe na nossa própria mente e nos nossos sentimentos

Até mesmo os adeptos da Ciência cristã e os hindus admitem isso. Se é uma ilusão, é profundamente perturbadora e a própria dor que gera faz ressurgir novamente o problema do mal.

Como um Deus bom e onipotente pode nos permitir ficar perturbados por essas ilusões? Assim, essa proposta apenas muda o problema do mal para outro nível.

E, desse modo, não funciona como solução. Também não funciona como reivindicação a respeito do mundo, pois as ilusões são, afinal de contas, um mal em si mesmas.

O fato de que seres humanos geralmente não conseguem distinguir entre ilusão e a realidade é em si um mal com o qual é preciso lidar.

Portanto, se o mal é uma ilusão, ele não é uma ilusão. A visão ilusionista refuta a si mesmo.

O mal como privação do bem:

Outra visão que tenta colocar o mal numa categoria metafisica obscura é ade que o mal é uma privação.

Essa visão esta bem mais espalhada do que a primeira dentro da cristandade e foi defendida por Agostinho, pelas tradições escolásticas católica e pós-Reforma e por muitos apologetas e teólogos modernos.

Afirmar que o mal é uma privação não é afirmar que ele é uma ilusão. Em vez disso, é afirmar que ele é negativo, em vez de positivo. É uma deficiência, um defeito em universo bom.

É uma ausência do bem, não a presença de algo bom. Além disso, é uma ausência do bem onde o bem deveria estar presente.

Não consideramos mal que uma arvore não consiga enxergar, mas nos compadecemos de um ser humano que não tem visão.

Consequentemente o mal não apenas a ausência do bem, mas uma privação ou carência.

O mal como consequência do livre-arbítrio:

Para alguns teólogos tomistas como Étienne Gilson o problema do mal se concentra no livre arbítrio que Deus deu aos homens, segundo Gilson todo o mal procede da vontade.

Essa vontade não foi criada má, nem mesmo indiferente ao bem ou mal, ela foi criada boa e de tal modo que precisava apenas de continuidade sem esforço no bem para atingir a beatitude perfeita.

O único perigo que ameaça essa natureza reside, portanto, na contingencia metafisica inseparável do estado de criatura, uma pura possibilidade.

Sem o menor traço de existência real, uma possibilidade que não apenas podia ter permanecido sem se concretizar, mas que devia ter permanecido assim (…).

Então, parece que podemos reivindicar com justiça para o pensamento cristão que ele fez tudo o que era necessário para reduzir o mal ao estado de um acidente evitável e para bani-lo para os confins deste universo fundamentalmente bom.

Contudo, ele tenta olhar por traz da liberdade humana para mostrar como o uso errado dela se baseia em um princípio metafisico.

A tendencia das criaturas de se tornarem perfeitas

Cada criatura tem essa tendencia. As criaturas racionais podem evitar isso, mas não evitam necessariamente.

Quando não o fazem, são responsáveis por terem por terem permitido tornarem-se imperfeitas. Deus não causa o mal moral, mas causa a existência de seres corruptíveis.

No entanto, ele não é responsável pelas deficiências dos seres racionais em evitarem a sua própria corrupção.

O mal é uma não existência, Deus não cria a não existência, apenas a existência.

Nos entendemos que essa não seja uma reposta convincente ao problema do mal, pelas seguintes razões:

Parece assumir a liberdade libertaria

Alguns pensadores reformados defendem a teoria da privação, embora rejeitem a liberdade libertaria:

Deus é a causa eficiente de tudo o que é bom, mas apenas da “causa eficazmente permissiva do mal.

Ele “apenas permite” o mal, por que este “não tem realmente verdadeira existência”.

No entanto fica difícil entender qual é a diferença entre permissão eficaz e a causação eficiente e não sei por que Deus deveria ser o responsável pelo que ele eficientemente, mas não por pelo que ele permite eficazmente.

Quando alguém escolhe livremente de deixar tornar imperfeito, essa escolha (assumindo que é libertaria) não é em si o resultado da entropia metafisica.

Essa escolha em si é, evidentemente, algo diferente de privação do bem, pois no pensamento de Gilson ela é anterior á privação, ela é uma escolha de fazer acontecer a privação.

Mas, então, a teoria da privação é totalmente irrelevante, uma complicação desnecessária ao argumento.

Por que não adotar simplesmente uma defesa convencional do livre-arbítrio e afirmar que o próprio livre-arbítrio explica o mal moral, em vez de explica-lo pelo livre-arbítrio em conjunto com a privação?

Se Deus não pode impedir a corrupção dos ser racionais, então como ele consegue criar criaturas incorruptíveis (anjos, e santos glorificados)?

Se ele consegue, mas escolhe não fazer isso, então o problema do mal ressurge num nível diferente: por que Deus escolheu não impedir a queda?

Devemos considerar o mal como “nada”, uma simples limitação ou privação do bem? Muitos parecem pensar que é obvio que devemos, mas não estou persuadido disso.

O preto pode ser visto como uma negação do branco (ou de qualquer cor), mas também se pode dizer que o branco e as cores são uma negação do preto.

Parece um bom princípio geral considerar os opostos no mesmo nível ontológico. Homens e mulheres são opostos, mas nenhum deles é a simples negação do outro. Ambos são seres substanciais.

Por que o bem e o mal devem ser diferentes?

É verdade que o bem é anterior ao mal em diversos modos:

  • (a) O bem veio primeiro na história, visto que a criação precede a queda.
  • (b) O bem tem um valor positivo em sim mesmo, o mal só tem valor positivo na medida em que aperfeiçoa o bem.
  • (c) O bem recebera a benção de Deus, o mal, a sua maldição.

Contudo, fica claro para mim que nada disso exige que afirmemos que o mal é a não existência ou a simples negação ou privação.

Há alguma outra simetria entre o bem e o mal que exija que consideremos o mal como uma não existência?

Não consegui encontrar sugestões desse tipo na literatura. Sem elas, preciso assumir que o bem e o mal, embora opostos, são ambas formas de existência.

Não conheço nenhuma razão Bíblica para afirmar que as coisas criadas tendem naturalmente a degradar-se em direção a não existencia, perder sua essência, ou tornarem-se corruptas.

As escrituras não falam nada nessa linha, na ausência de comprovação Bíblica, não conheço nenhum motivo para afirmar uma dessas coisas.

Em que podemos concordar com Gilson?

No entanto se concordarmos com a visão de Gilson de que o mal é uma falta ou privação da existência, um tipo de não existência, por que isso absolveria Deus da culpa pelo mal?

A descrição de Deus que Gilson apresente é grosseiramente análoga á de um padeiro que faz rosquinhas. O padeiro modela a massa no conhecido formato de um O.

Quando alguém diz: “Vejo os ingredientes que você usa para fazer s rosquinhas, mas quais você usa para fazer o buraco no meio?”, o padeiro considera essa uma piada infeliz.

Não há “ingredientes” para o buraco. Ele é simplesmente um vazio na massa que aparece quando o doce é criado.

Quando o padeiro faz uma, veja só!, o buraco também está lá´. Fazer rosquinhas não é um processo de dois passos, no qual primeiro se faz a massa e a modela, e depois se faz o buraco, pelo menos, não precisa ser assim.

O buraco não é algo que é preciso fazer sem adição é massa sólida, é apenas falta ou privação da massa.

Certo. Mas as rosquinhas, afinal, têm buracos

O padeiro podia ter feito a sua massa se tornar um doce compacto sem buraco, mas preferiu incluir um buraco.

Não é dele a culpa se o buraco ficar muito pequeno, muito grande ou malformado? Não dele o mérito pela rosca do tamanho certo?

Não é ele que é responsável pela sua escolha de fazer rosquinhas em vez de doces compactos?

De modo semelhante, se Deus é o criador de todos os seres no universo, não é ele a fonte de tudo o que falta, das privações e negações de existência que por ventura existam no mundo?

Vemos muitas vezes as Escrituras revelando Deus fazendo acontecer algumas ações humanas pecaminosas.

Não me parece impirtat muito se consideramos esses pecados como existência ou não existência.

Se procedem de Deus, então procedem de Deus, e o problema do mal permanece.

O que é o mal, na visão Bíblica?

Como vimos, o mal natural é a maldição divina, as dores trazidas sobre o mundo pela queda do homem.

O mal moral é pecado, a transgressão da lei de Deus (1 Jo. 3.4). As Escrituras não especulam se esses males são “existência” ou “não existência”, ou se eles se encaixam na estrutura metafisica do mundo.

De fato, do ponto de vista Bíblico, o perigo está me reduzir o mal a metafisica, equiparando a relação entre a justiça e o pecado com relação entre existência e não existência.

Cornelius Van Til frequentemente adverte contra reduzir a ética á metafisica ou confundir pecado com a finitude, pois essa redução despersonaliza o pecado.

Nessa redução, o pecado torna-se um defeito na própria criação, em vez de ser a rebelião de pessoas criadas contra seu Criador pessoal.

E essa concepção dá aos pecadores uma nova desculpa: a sua finitude e mutabilidade criadas.

Além disso, essa visão incentiva noções de salvação nas quais o objetivo é livrar-se da nossa finitude e tornar-se divino, em vez de tornar-se obediente.

Algumas coisas boas sobre o mal

Outra abordagem ao problema é reivindicar que a presença, ou pelo menos a possibilidade, do mal no mundo é boa, ao ser considerada de uma perspectiva mais ampla.

Até os seres humanos as vezes são chamados a infligir dor por uma boa causa: uma cirurgia para curar, uma punição aos filhos para disciplinara-los.

Então, não parece impossível imaginar que Deus tenha um bom proposito ao permitir o mal, um proposito que tenha mais peso do que o sofrimento e a dor.

Um proposito que no fim torne melhor este mundo do que ele seria sem a intrusão do mal. Essas observações são denominadas de a defesa do bem maior contra o problema do mal.

Alguns argumentam que a possibilidade do mal é necessária para um universo ordenado. Nessa visão, um universo ordenado é um universo que é governado.

De modo previsível pela lei natural

Porém, as leis naturais são impessoais. A lei da gravidade, por exemplo, não faz acepção de pessoas.

Se alguém pula de um alto penhasco, ficara machucado, quer seja justo ou perverso. Se Deus protegesse miraculosamente todos (ou mesmo só os justos) que se arriscam de maneira insensata, seria difícil prever os eventos da natureza cientificamente.

Por isso, para ter um universo ordenado e previsível, afirma o argumento, precisamos nos dispor a aceitar certo montante de dor e sofrimento.

Outros argumentam que é necessário certo montante de mal no mundo para a “edificação da alma”.

John Hick defende que nascemos imaturos moralmente e que precisamos de algumas experiencias difíceis para ganhar fibra moral.

O Livre Arbítrio

A forma mais comum da defesa do bem maior e a defesa do livre-arbítrio, a qual argumenta que Deus arrisca corretamente a possibilidade do mal para permitir aos seres humanos o grande benefício da liberdade libertaria de escolha.

Alguns observam que há virtudes que não poderiam existir ou se manifestar, exceto como reações ao mal: compaixão, paciência, coragem, a busca da justiça e o amor redentor pelo qual alguém morre pelos seus amigos.

Às vezes, esses são chamados de “bens de segunda ordem”, que são dependentes de “males de primeira ordem”.

Podemos listar outros usos positivos do mal

Nas escrituras, Deus usa o mal para testar os seus servos, para disciplina-los, para preservar a vida deles, para lhes ensinar paciência e perseverança.

Para redirecionar a atenção deles para o que é mais importante, para capacita-los a consolar os outros e para testemunhar poderosamente a respeito da verdade

Para lhes dar uma alegria maior quando o sofrimento for substituído pela gloria, para punir os perversos tanto na história quanto na vida por vir, para gerar recompensa aos crentes perseguidos e, simplesmente “para que se manifestem nele as obras de Deu”.

O cerne de todos esses argumentos e que, embora o mal seja deplorável em si mesmo, há certas maneiras nas quais ele torna o mundo em geral um lugar melhor.

Portanto, alguns argumentam que os males contribuem para um “bem maior”. Alguns até defendem que, mesmo com todo seu mal, este mundo é o “melhor mundo possível”.

O filosofo G. W. Leibniz argumentou que um Deus onipotente, onisciente e onibenevolente não poderia ter criado algo inferior.

É certamente verdadeiro que, ao trazer dor e sofrimento para as pessoas, Deus tem um bom proposito.

“Vos, na verdade, intentastes o mal contra mim; Porem Deus o tornou bem”. E, num contexto que lida com os sofrimentos dos cristãos.

Paulo afirma que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

Devemos reconhecer esses princípios

Reconhecer e afirmar esse princípio é um elemento essencial em qualquer reação cristã ao problema do mal.

Isso por que é primordial perceber que, muito embora Deus faça o mal ocorrer no mundo, ele o faz por uma boa ração. Portanto, ele não pratica o mal ao fazer ocorrer o mal.

Eu questiono alguns dos argumentos mencionados anteriormente nesse sentido. A ideia de que é preciso suportar algum tipo de dor humana.

Em qualquer universo ordeiro não leva em conta os ensinamentos bíblicos a respeito do mundo antes da queda e a respeito do céu pós-consumação, no qual “[ele] lhes enxugara dos olhos toda lagrima.

E a morte já não existira, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” .

Certamente, o céu será um lugar de ordem, mas com certeza Deus conseguira manter essa ordem sem sofrimento humano.

A Teodicéia e sua viusão sobre o problema do mal

A teodiceia irrinea de Hick, “para a edificação da alma”, desconsidera o fato de que, nas Escrituras, Adão foi criado bom, não imaturo moralmente e com necessidade de desenvolver seu caráter por meio do sofrimento.

É verdade que Deus usa o mal para nos santificar, mas a verdadeira edificação das almas, tanto na antiga tanto na nova criação, ocorre pela graça divina.

Quanto a teoria de Leibniz, muitos duvidam que haja algo como um “melhor mundo possível”.

Dado qualquer universo possível, não podemos imaginar outro que inclua um bem a mais ou um mal a menos?

De fato, a Bíblia nos diz explicitamente que o mundo atual é inferior ao mundo por vir

Se Deus é capaz de fazer um mundo que é menos-do-que-o-melhor por um período temporário, por que ele não pode criar um mundo que nunca é o melhor de modo absoluto?

Não é possível que Deus queria mostrar a sua graça dando existência a seres que são menos que perfeitamente excelente?

Não obstante, há uma percepção válida na defesa do bem maior. As Escrituras fornecem muitos exemplos de Deus transformando o mal em bem.

Além disso, sabemos que, no último dia, a justiça, a misericórdia e a retidão de Deus serão tão claras a todos que ninguém o acusara de erro.

Antes: “(…) todas as nações viram e adorarão diante de ti, por que os teus atos de justiça se fizeram manifestos”.

Quando todas as ações divinas são consideradas, ficara claro que a soma das suas obras é justa. Dos males da história, ele trouxe bem inquestionável, digno do mais alto louvor.

No entanto lembre-se do seguinte

Primeiro: É importante definirmos bem maior de modo teista. O bem maior deve ser visto, primeiramente, não como maior prazer e conforto para nós.

Mas como maior gloria para Deus. Certamente há acontecimentos que são difíceis de justificar como benefícios para as pessoas envolvidas, sendo o principal deles a punição eterna.

No entanto, Deus é glorificado na punição dos pecadores, e isso é uma coisa boa, não um mal.

Apesar disso, Deus prometeu que o que traz glória para ele também trará, em longo prazo, benefícios para os crentes.

Por isso Romanos 8.28 afirma que: “todos as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, que são chamados segundo seu propósito”.

Segundo: Deus em geral nos surpreende pela maneira como ele gera o bem a partir do mal.

Certamente José se surpreendeu com o meio que Deus usou para eleva-lo da posição de escravo e prisioneiro para a de primeiro-ministro do Faraó.

Certamente os filhos de Israel ficaram surpresos com os milagres que Deus operou para tira-los do Egito e sustenta-lo no deserto

Todavia, o exemplo principal dos modos maravilhosos de Deus é encontrado na cruz de Jesus.

Os profetas prometeram o juízo divino pela desobediência de Israel, mas simultaneamente prometeram que Deus perdoaria e abençoaria.

Como ele poderia fazer ambos?

A desobediência dos Israelitas merecia nada menos que a morte. Como Deus poderia ser justo ao lidar com o pecado deles e ainda lhe dar suas bençãos prometidas?

Certamente esse problema era totalmente impenetrável, até que Jesus morreu em nosso lugar.

Sua expiação foi ao mesmo tempo juízo e graça: juízo sobre Jesus pelo nosso pecado, graça a Israel verdadeiro, aqueles que estão eleitos com ele.

Meu argumento atual é este: se Deus agiu de modo tão maravilhoso e surpreendente para gerar o bem a a partir do mal quando isso parecia impossível.

Podemos deixar de confiar que ele gerara o bem a partir dos males restantes que vivenciamos?

Terceiro: Será que a defesa do bem maior pressupõe que os fins justificam os meios?

De fato, ela afirma que os bons propósitos de Deus justificam o seu uso do mal.

Ao criticarmos alguém por defender que “os fins justificam os meios”, queremos dizer que ele pensa que um fim nobre justifica os meios que, de outro modo, seriam considerados perversos.

No entanto, essa é precisamente a questão diante de nós: a ato divino de fazer ocorrer o mal é normalmente uma ação perversa, que Deus justifica ad roc por causa de nobre propósito?

Se Deus fez ocorrer um mal moral em certo sentido, esse ato foi singular

No final das contas, o mal só veio ao mundo uma vez

Outros “endurecimentos” do coração das pessoas na história são ações que apenas Deus pode realizar.

Quem somos nós para afirmarmos que essas ações são “normalmente” perversas, em vez confessar que são prerrogativa divina singular?

Quando um homem mata uma pessoa inocente, seu ato é normalmente um assassinato. Porém, quando Deus uma toma uma vida humana, ele age dentro da própria autoridade do seu senhorio.

Por que não podemos afirmar o mesmo acerca de sua agencia em fazer ocorrer o mal? No mínimo, devemos dizer novamente que o ônus da prova é do opositor.

Quarto: Visto que o ônus da prova é do opositor, não é necessário que construamos uma teodiceia completa, uma justificação dos caminhos de Deus.

Neste mundo, andamos por fé, não pelo que vemos (2 Co 5.7). Temos que entender que as vezes, buscar uma teodiceia pode ser pecaminoso – quando as pessoas exigem de Deus uma explicação pelos males que as afligem.

Conclusão sobre o Problema do Mal

Então, minha conclusão quanto a defesa do bem maior é que Deus certamente deseja o mal para um bom propósito.

O bem que ele deseja será tão grande, maravilhoso e belo que fará parecerem pequenos os males atuais.

Mas não temos a obrigação de mostrar para todo caso como as ações passadas e presente de Deus contribuem para o bem final, o incrédulo não tem nenhum direito de exigir uma explicação desse tipo.

Embora a defesa do bem maior seja basicamente sólida, ela nos deixa com uma sensação de mistério. Afinal, é difícil imaginar como o bom propósito de Deus justifica o mal.

Para que você possa aprender mais e se aprofundar neste assunto tão relevante, indico que você leia nosso próximo artigo: “O Problema do Mal parte (2)”, e leia a Teologia Sistemática de John Frame, que deu origem a este artigo. Deus abençoe.

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