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O que Jesus fala sobre juramentos e honestidade

Segundo Carson no terceiro bloco de texto, Jesus aborda a questão da honestidade. As pessoas tinham ouvido o que fora dito muito tempo atrás: “Não quebre sua promessa, mas cumpra os juramentos que fez ao Senhor” (5.33).

Isso não é citação direta do Antigo Testamento, mas uma alusão a passagens como Êxodo 20.7, Levítico 19.12, Números 30.2 e Deuteronômio 23.21-24. Contudo, Jesus agora diz: “Não jurem de forma alguma” (5.34).

Alguns pensam que isso as proíbe de fazer juramento num tribunal ou de prestar juramento de lealdade. O desejo dessas pessoas de obedecer à Palavra de Deus é admirável, mas tenho de admitir que elas não a entenderam direito.

Como sempre, Jesus está pregando por antítese, e é importante descobrir exatamente o que ele está dizendo antes de tomarmos sua declaração com essa incondicionalidade insensível.

O Antigo Testamento

Antes de tudo, é preciso notar que o Antigo Testamento permite que os homens façam juramentos, até em nome de Deus: “Temam o Senhor, o seu Deus, e sirvam a ele. Apeguem-se a ele e jurem somente pelo seu nome” (Dt 10.20).

Mesmo no Novo Testamento, Paulo, por exemplo, jura com frequência pelo nome de Deus. Ele até convoca Deus como sua testemunha (Rm 1.9; 2Co 1.23; 1Ts 2.5,10; cf. Fp 1.8). Portanto, se Paulo sabia desse ensino de Jesus, ele certamente não o interpretou de forma absoluta.

O próprio Deus jura: ele jura não enviar outro dilúvio universal (Gn 9.9-11), jura enviar um redentor (Lc 1.68,73), jura ressuscitar seu Filho dentre os mortos (Sl 16.10; At 2.27-31), e muito mais.

Todos esses votos e esses juramentos têm o propósito de estimular a honestidade ou torná-la ainda mais solene e garantida.

Às vezes isso é até soletrado para nós

Em um caso, por exemplo, lemos: “Porque Deus, querendo mostrar claramente a natureza imutável de seu propósito aos herdeiros da promessa, confirmou-o com um juramento” (Hb 6.17).

Pelo mesmo motivo, o código mosaico proibia apenas os juramentos falsos ou irreverentes, que devem ser considerados profanação do nome de Deus.

Infelizmente, contudo, na época de Jesus, os judeus haviam construído todo um sistema legalista em torno dos ensinamentos do Antigo Testamento.

O código jurídico judeu, a Mishná, contém um tratado inteiro dedicado à questão dos juramentos, incluindo uma análise detalhada de quando eles são compulsórios e quando não são.

Por exemplo, um rabino diz que, se alguém jurar por Jerusalém, não está obrigado por seu voto; mas se jurar na direção de Jerusalém, está obrigado a cumprir seu voto.

Assim, os juramentos degeneram numa série de regras terríveis que informam quando é possível usar mentiras e falsidade impunemente e quando não é.

Esses juramentos não incentivam mais a honestidade, mas enfraquecem a causa da verdade e promovem o engano. Jurar evasivamente passa a ser uma desculpa para mentir.

Jesus não permite esse tipo de sofisma entre seus seguidores

Se os homens querem fazer esse jogo com os votos, ele simplesmente acaba com todo e qualquer voto. Jesus está interessado em honestidade, sua constância e incondicionalidade.

Jesus dá exemplos. Os homens não devem jurar pelo céu nem pela terra, pois estes são respectivamente o trono de Deus e o escabelo de seus pés.

As pessoas também não devem jurar voltadas em direção a Jerusalém (se traduzirmos a preposição literalmente), pois é a cidade de Deus, o grande Rei.

Não se deve jurar nem pela própria cabeça (cp. com 1Sm 1.26; Sl 15.4), pois não podem mudar a cor de um fio de cabelo sequer: isto é, estão jurando por uma coisa sobre a qual só Deus tem total controle.

Em outras palavras, Jesus associa todo voto a Deus

Jurar por qualquer coisa é jurar por Deus, pois ele está por trás de tudo. Portanto, nenhum juramento é trivial, nenhum juramento é uma evasiva justificável; todo juramento é uma promessa solene de falar a verdade. Jesus expande essa questão em outra passagem:

Ai de vocês, guias cegos! Vocês dizem: “Se alguém jurar pelo templo, isso não tem importância; mas, se alguém jurar pelo ouro do templo, fica obrigado pelo seu juramento”. Cegos e insensatos!

O que é maior: o ouro ou o templo, que santifica o ouro?

Vocês também dizem: “Se alguém jurar pelo altar, isso não tem importância; mas, se alguém jurar pela oferta sobre ele, fica obrigado por seu juramento”.

Cegos! O que é maior: a oferta ou o altar, que santifica a oferta? Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que está sobre ele.

Quem jurar pelo templo jura por ele e por aquele que nele habita; e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por quem está assentado nele (Mt 23.16-22).

A verdadeira questão aqui é a honestidade. Para o seguidor de Jesus, é melhor apenas dizer “sim” ou dizer “não” com sinceridade.

No contexto da época de Jesus, tudo o que passe disso vem do Maligno (5.37), que é chamado bem apropriadamente de pai da mentira (Jo 8.44).

O ensino de Jesus sobre a honestidade causou profunda impressão na igreja primitiva, pois naquela que foi talvez a primeira epístola do Novo Testamento, a Epístola de Tiago, a mesma questão é enfatizada (Tg 5.12).

Considerações Finais

Os cristãos afirmam ter a verdade e seguir aquele que é a Verdade (Jo 14.6). Em nossas conversas, portanto, verdade deve ser o nosso lema.

Quantos de nós floreamos um pouco nossas histórias de uma forma reprovável, seja para reforçar nosso argumento, seja para parecermos mais interessantes aos olhos dos outros do que os fatos reais permitiriam?

Quantos de nós dizemos que vamos fazer uma coisa e depois voltamos atrás porque cumprir a promessa nos traz algum inconveniente?

Vocês, que, como eu, são mestres e pregadores, quantas vezes também forjam provas para demonstrar um ponto de vista ou falam categoricamente sobre assuntos que desconhecem, na esperança de que sua postura dogmática consiga esconder a própria ignorância?

Não estou falando de um erro honesto, mas de fraude. Nosso Senhor insiste em que a Escritura do Antigo Testamento aponta para a honestidade, e todos os que se submetem à autoridade dele devem falar somente a verdade.

Para que possa aprender mais sobre este tema, leia nosso próximo artigo “O Sermão Monte ao Alcance de Todos”, recomendo que você estude o livro de Carson “O Sermão do Monte” que deu origem a este artigo.

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