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Sermão da Montanha – A Ira e a Reconciliação Segundo o Ensino de Jesus

Neste artigo, vamos falar sobre o sermão da montanha e seu ensino sobre a reconciliação. Segundo Dr. D. A. Carson as pessoas tinham ouvido o que fora dito a seus ancestrais: “Não matarás, e quem matar estará sujeito a julgamento”.

Essa proibição explícita é o sexto dos dez mandamentos; a ameaça de julgamento fazia parte da lei mosaica relativa ao homicídio.

A pessoa que tivesse matado alguém tinha de ser levada à presença de um tribunal para ser julgada. Leia o texto e enriqueça seu conhecimento com uma ótima teologia bíblica.

A Doutrina Ensinada no Sermão da Montanha

Será, porém, que o homicídio é só uma ação, cometida sem relação com o caráter do assassino? Será que não existe algo mais fundamental em jogo, isto é, como ele considera os outros (mesmo sua vítima ou suas vítimas)?

Será que o ódio ignóbil e a ira vingativa do homicida não estão à espreita nas sombras por trás do ato em si?

Será que isso não significa que a ira e o furor são em si condenáveis? Por isso, Jesus insiste em que não só o assassino, mas qualquer um que tenha raiva de seu irmão, está sujeito a julgamento.

Aqui cabem algumas observações

Em primeiro lugar, alguns manuscritos mais antigos do Novo Testamento acrescentam as palavras “sem motivo” depois de “se irar contra seu irmão”.

Isto é: “Mas eu lhes digo que todo aquele que se irar contra seu irmão sem motivo será sujeito a julgamento”. É quase certo que essas palavras foram acrescentadas depois.

Alguns escribas certamente acreditavam que Jesus não poderia ter sido tão rigoroso a ponto de não excluir nenhum tipo de ira, por isso inseriram as palavras para atenuar a declaração.

Em segundo lugar, esse modo categórico e antagônico de falar caracteriza grande parte das pregações de Jesus e, na minha opinião, reflete uma maneira de pensar semítica e poética.

Teremos de lidar com isso repetidas vezes no Sermão do Monte, mas também encontraremos essa característica em outras partes.

Em Lucas 14.26, por exemplo, Jesus declara: “Se alguém vem a mim e não odeia seu pai e sua mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo”.

O verbo “odiar” nesse versículo não pode ser entendido em sentido restrito

O que Jesus está dizendo é que o amor e a lealdade se devem a ele acima de tudo e de todos; não se deve permitir que nenhum concorrente usurpe o que não lhe é devido.

Mas Jesus diz isso desse jeito contrastante (cf. Mt 10.37), apesar de defender em outra passagem a importância de, por exemplo, honrar pai e mãe (Mc 7.10ss.).

Na verdade, é importante deixar essa forma antitética e categórica de discurso falar, com toda sua rígida incondicionalidade, antes que tentemos moderá-la com considerações mais gerais.

Em Mateus 5.21ss., Jesus relaciona a ira ao assassinato: aceite essa relação e não pondere que alguns tipos de ira, mesmo na própria vida de Jesus, não apenas sejam justificáveis, mas legítimas. Falarei mais sobre isso adiante.

Em terceiro lugar, se a ira é proibida, o desprezo também é

Raca é um insulto em aramaico. A palavra significa “vazio” e talvez pudesse ser traduzida por “seu cabeça-oca!” ou algo semelhante. Isto é, ninguém pode dizer para outra pessoa: “Seu idiota!”.

As pessoas que têm ações e atitudes desse tipo são sujeitas a julgamento, ao Sinédrio, à Geena. O Sinédrio era a suprema corte judaica.

Geena é a transliteração grega de duas palavras semíticas que significam “vale do Hinom”, uma ravina no sul de Jerusalém onde era jogado e queimado o lixo e que, consequentemente, passou a ser um eufemismo para “o fogo do inferno”.

Alguns tentaram entender nesses três passos — ira, Raca, “Seu idiota!” — uma gradação. Mas é difícil acreditar que Jesus esteja se curvando a esse sofisma.

Será que ele recorreria a essas filigranas de distinguir entre Raca e “Seu idiota”? E será que qualquer uma das duas poderia ser dita sem ira?

Jesus está tão somente dando vários exemplos para se fazer entender. Ele é um pregador que expõe seu argumento e depois faz seus ouvintes sentirem o peso.

Ele confronta seus ouvintes: Vocês, que se acham muito diferentes, moralmente falando, dos assassinos — nunca sentiram ódio?

Nunca desejaram que alguém morresse? Não se rebaixam frequentemente a ponto de desprezar e até caluniar os outros?

Toda essa ira difamatória está na raiz do homicídio e faz com que um homem zeloso tome consciência de que moralmente não difere nem um pouco de um assassino de verdade.

O Sermão da Montanha e a Reconciliação Entre os Seres Humanos

Da mesma forma, há dúvida de que os três castigos — julgamento, Sinédrio e fogo do inferno — devam ser entendidos como uma gradação.

Na teocracia do Antigo Testamento, o próprio Deus respaldava o sistema jurídico do Estado. O julgamento, embora civil, também era divino.

Aqui, Jesus percorre o sistema oficial até a punição máxima para deixar claro que o julgamento a ser temido é de fato divino, pois se baseia na avaliação que Deus faz do coração e pode levar ao fogo do inferno.

Esses versículos dizem algo muito importante. Não se deve pensar que a lei do Antigo Testamento que proíbe o homicídio está sendo adequadamente cumprida desde que não haja derramamento de sangue.

Em vez disso, a lei indica um problema mais fundamental: a ira difamatória do ser humano.

Jesus, por sua própria autoridade, insiste em que o julgamento que se pensava estar reservado apenas para alguém que comete um assassinato na realidade paira sobre os irascíveis, os maldosos e os espezinhadores.

Existe, portanto, alguém que permaneça sem condenação?

Alguém poderia perguntar:

“Mas o próprio Jesus não ficou bastante irado algumas vezes?”. Sim, é verdade. Ele sem dúvida ficou contrariado com o comércio praticado nas dependências do templo (Mt 21.12ss. e passagens paralelas).

O Evangelho de Marcos registra a ira de Jesus contra aqueles que, por razões legalistas e hipócritas, tentavam encontrar algo errado nas curas que ele realizou no sábado (Mc 3.1ss.).

E certa ocasião, ao dirigir-se aos escribas e fariseus, Jesus disse: “Insensatos e cegos!” (Mt 23.17).

Será que Jesus é culpado de grave incoerência?

De fato, há lugar para arder de raiva contra o pecado e a injustiça. Nosso problema é que nós ardemos de indignação e ira não contra o pecado e a injustiça, mas contra o que nos ofende pessoalmente.

Em nenhum dos casos em que Jesus se irou vemos seu ego envolvido na questão. Ainda mais revelador é que, quando foi preso injustamente.

Julgado de forma arbitrária, açoitado sem condenação, insultado com cusparadas, crucificado e escarnecido, quando de fato ele tinha todos os motivos para que seu ego se revoltasse, Pedro diz:

“Quando insultado, não revidava, quando sofria, não fazia ameaças” (1Pe 2.23). De seus lábios ressecados, saíram, em vez disso, estas palavras bondosas: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23.34).

Admitamos: em geral somos rápidos para ficar irados quando somos pessoalmente afrontados e ofendidos, mas lentos para sentir ira quando vemos o pecado e a injustiça se multiplicarem em outras áreas.

Nesses casos, somos mais inclinados a filosofar

Na verdade, o problema é até mais complicado que isso. Às vezes nos envolvemos numa questão legítima e discernimos, talvez com precisão, o certo e o errado na situação.

Contudo, ao defender o lado certo, nosso ego fica tão preso à questão que, para nós, os oponentes não só estão do lado errado, mas também nos atacando.

Quando reagimos com ira, podemos nos iludir, pensando que estamos defendendo a verdade e o direito, mas lá no fundo estamos mais preocupados em nos defender.

No Sermão do Monte, apesar do modo incondicional com que proíbe a ira, Jesus não está proibindo todo tipo de ira, mas a que se origina nas relações pessoais.

Isso é óbvio não apenas pelos ensinamentos e conduta de Jesus em outras ocasiões e porque a ira em questão é a que se encontra no coração do assassino.

Mas também pelos dois exemplos que Jesus dá para tornar seu argumento ainda mais incisivo (5.23-26).

O primeiro (5.23,24) fala de uma pessoa que vem cumprir seus deveres religiosos (nesse caso, a oferta de um sacrifício no altar do templo), mas ofendeu seu irmão.

O Que Jesus Ensina no Sermão da Montanha

Jesus insiste em que é muito mais importante essa pessoa se reconciliar com seu irmão do que se desincumbir de seu dever religioso.

Pois este último passa a ser fingimento e enganação se o adorador se comportou tão mal que seu irmão tem algo contra ele.

É mais importante ser absolvido da ofensa diante de todos os homens do que chegar no horário certo ao culto de domingo de manhã.

Esqueça o culto de adoração e se reconcilie com seu irmão; só depois adore a Deus.

Os homens gostam de substituir integridade, pureza e amor por cerimônias, mas Jesus não aceita nada disso.

Considerações Finais Sobre o Sermão da Montanha e a Reconciliação

O segundo exemplo (5.25,26) novamente usa uma metáfora jurídica. Na época de Jesus, assim como em séculos mais recentes, quem não pagasse suas dívidas podia ir para uma prisão para devedores até pagar a quantia devida.

Enquanto estivesse preso, certamente não recebia nenhum dinheiro e, portanto, dificilmente conseguiria quitar a dívida e recuperar a liberdade.

Porém, seus amigos e entes queridos, ansiosos por tirá-lo de lá, podiam fazer imenso e sacrificial esforço para conseguir o dinheiro.

Seria levar a metáfora longe demais deduzir que Jesus está ensinando que o tribunal celeste condenará os culpados à “prisão” (inferno?) somente até que tenham quitado suas dívidas. As dívidas em questão são ofensas pessoais.

Como, então, serão pagas? E como outras pessoas podem pagar essas dívidas pelo preso? O que Jesus está ressaltando, na verdade, é a urgência da reconciliação pessoal.

O juízo está às portas, e a justiça será feita: portanto, afaste-se de toda maldade e ofensa contra os outros, pois até aquele “que se irar contra seu irmão será sujeito a julgamento” (5.22).

Desse modo, vemos que, nesses dois casos, é a animosidade pessoal que é condenada.

Para que possa aprender mais sobre este tema, leia nosso próximo artigo “O Sermão Monte ao Alcance de Todos”, recomendo que você estude o livro de Carson “O Sermão do Monte” que de

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